A alma respira através do corpo, e o sofrimento, quer comece no corpo ou numa imagem mental, acontece na carne.
António Damásio, 1995
A psicoterapia em movimento é um processo de auto-descoberta e de aceitação individual. Está indicada para as pessoas que querem iniciar um processo terapêutico, que têm qualquer dificuldade que pretendem solucionar, independentemente da idade e do tipo de problemática apresentada. É também um processo de crescimento pessoal, valorizando-se a expressão e a de tomada de consciência sobre si mesmo.
Esta abordagem psicoterapêutica acontece no seio de uma relação específica, com limites claros e bem definidos, onde é possível experimentar sem medo, onde a confiança se vai construindo, e se vão criando as bases para uma mudança sustentada. Neste sentido, é como qualquer outro processo psicoterapêutico. Nesta abordagem, é feito um convite para que a psicoterapia inclua o trabalho com o corpo/movimento, e as sessões são planeadas de acordo com cada pessoa com quem é estabelecido um acordo relativamente ao processo.
A especificidade desta psicoterapia é assim trazer o corpo e a sua linguagem (o movimento) para o processo terapêutico. Utiliza-se a linguagem verbal e não verbal para potenciar a comunicação e para estabelecer uma relação terapêutica segura. Cada sessão é geralmente iniciada com a palavra, passando depois ao movimento (ou à imobilidade…) e voltando à linguagem verbal no final da sessão, para integrar o que se vivenciou em movimento.
Tal como a Dança Movimento Terapia, baseamo-nos na conexão corpo-mente: o corpo e a sua forma de expressão são inseparáveis dos processos emocionais e cognitivos do ser humano; trabalhamos assim com o movimento e com a emoção. O movimento reflecte estados de animo e alterações no movimento permitirão mudanças nos estados interiores, psicológicos, aumentando o bem-estar pessoal.
Por vezes é do bailado de cada um que se trata, outras tantas é o movimento expressivo o que aparece, outras ainda o gesto como comunicação… Acontece até nem nos movermos… Considero a palavra ‘movimento’ mais livre e menos circunscrita, capaz de quebrar a barreira do “…mas eu não sei dançar…” Não é necessário ‘saber dançar’, mas sim aprender a sentir no corpo, a deixar o movimento conduzir o processo, a permitir que as emoções e a experiência falem através do corpo. E, por vezes, o corpo sente com mais intensidade quando se move… Outras, quando se aquieta.
Em termos teóricos, a psicoterapia pelo movimento pode enraizar-se em diversos paradigmas de entendimento do processo terapêutico, sendo a mais comum a psicoterapia de inspiração psicanalítica. Podem utilizar-se estratégias terapêuticas que provêem de várias fontes: a Dança Movimento Terapia, a ludoterapia, as diversas artes-terapias ou ainda exercícios de outras disciplinas de ligação corpo-mente (como o Chi Kung e o Tai Chi). Podem fazer-se exercícios de respiração e meditação, ou cada sessão ser um momento criativo individual. Depende de cada um de nós e da relação que estabelecemos.
(Imagem da obra de Amadeo de Souza-Cardoso, 1910)